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quinta-feira, 19 de novembro de 2020

                                       NÃO É ZUMBI!

 Tata Ananguê[1]



 

Figura 1: Cabeça de Nobre nigeriano



Fonte:  Acervo British Museum de Londres.



                                        Figura 2: Zumbi dos Palmares                   


Fonte: Zumbi (1927), pintura de Antonio Parreiras (1860 – 1937) / Acervo do Museu Antonio Parreiras, Niterói.

          20 de novembro, mais um dia de comemoração a uma imagem equivocada, no que tange a verdadeira identidade do herói negro Zumbi dos Palmares. Não se sabe se foi, ou é mais um: Deixa rolar! Time Que Está Ganhando Não Se Mexe! Negro é tudo a mesma coisa!  Vai que cola! etc, etc e tal. Está-se falando da inauguração do monumento a Zumbi dos Palmares, em 20 de novembro de1980, alguns dizem 1986, na Avenida Presidente Vargas, precisamente, na área intitulada Praça XI, na Cidade do Rio de Janeiro. O fato é que não durou muito tempo do citado evento, para um jornal carioca, anunciar o roubo da cabeça de Zumbi dos Palmares, cuja imagem era da referida cabeça envolta por um torço, no estilo banto, material esculpido em bronze como aparece na figura 2. Três meses depois, anunciaram a reposição da cabeça de Zumbi. Porém, a reposição foi uma réplica da cabeça de um nobre iorubá, como aparece na figura 1, e que lá permanece até a data de hoje, mas que nada tem a ver com Zumbi dos Palmares que descende da linhagem Bantu. É importante clarificar que Iorubás e Bantos situam-se na região subsaariana, ou África Negra, ou seja abaixo do Vastíssimo deserto de Saara. A diferença é exatamente por que são separados pela linha do Equador. Acima dessa linha habita o povo que fala a língua Yoruba (os Nagô), e os Jeje que falam a língua Fon ou Ewe. Essa região é conhecida como África Ocidental. Enquanto os Bantu habitam a África Centro Ocidental que fica abaixo da linha do Equador. Onde conclui-se que por isso, tratam-se de povos diferentes, regiões diferentes, países diferentes, cultura e religiosidades diferentes. (Castro, 2009).

Entretanto, no velho processo do “achismo”, tudo termina, equivocadamente, em Iorubá, ou seja: Olorun, Orixá, Axé, Ogun, Oxossi, Xangô, Iemanjá, Inhasã, entre outros, que em algum momento tiveram uma passagem terrena como seres humanos, e por isso gostam de apresentarem-se dessa forma. Como exemplo temos: Xangô rei de Oyó, Ogun rei de Onyrê, Odudua rei de Ífé, etc. Então, é quando por falta de conhecimento, os Bantu com sua maior divindade Nzambi Mpungu (O Deus todo Poderoso), o Nguzu, os mukisi (mukixi), nikici que são divindades medicinais e secundárias como Nkoci, Mutakalambo, Nzaji, Kaiala, Matamba e etc, são impiedosamente lançados na área do deboche, estereótipos e rotulações. Todavia, há de se convir que, isso acontece também, dentro de algumas casas de Angola que se acham superiores àquelas que não pertencem as suas raízes, e que nesse caso apresentam suas próprias peculiaridades. As divindades secundárias bantu incorporam em forma de espírito, já que não tiveram vida terrena e representam os elementos da natureza, fogo, água, terra, ar e suas ramificações, onde em algumas casas fazem uso do mukange (máscara), como símbolo do mistério que sempre está por trás da máscara (Carise, 1998, Thompson, 1992 e Thornton 1992). Esse atropelamento infringido diuturnamente à cultura bantu caracteriza-se como mais uma consequência trágica nesse processo premeditado de invisibilidade.

            Mas, retornando à história da cabeça substituta, na época o jornal O Globo já deixava claro que aquela cabeça não era a de Zumbi. A escultura até hoje lá exposta é réplica de uma cabeça nigeriana esculpida entre os séculos XI e XII. Descoberta em 1938, ela hoje está no British Museum de Londres”. Criar slogans, como “respeite o meu sagrado! Igualdade racial! Vamos nos unir! Combate ao preconceito e discriminação! Combate a intolerância religiosa! Tapioca mordeu beiju! Pa pa pa e bola e coisa e tal!” só irão funcionar quando as religiões de matriz africana respeitarem cada uma o quadrado da outra. E dentro desses quadrados, respeitar a raiz ou família do “outro”. Em outras palavras, analisar o “outro” com relatividade.

[1] Tata Ananguê (Jeusamir Alves da Silva) – Mestre em Educação, Cultura e Comunicação em Periferias Urbanas/UERJ. Professor de: História/UNOPAR, Artes e Educação Artística/IUC. Cientista, Historiador, Escritor, Pesquisador. Pós Graduado em História e Cultura Afro-brasileira (com Aperfeiçoamento e Extensão), Ensino de História, Ciências da Religião, Ensino da Língua Espanhola, Artes Técnicas e procedimentos, Gestão Escolar: Supervisão, Orientação e Administração/UCAM, Extensão Universitária: O Povo Bantu na África e no Brasil/UERJ. Presidente da CNCACTBB. Sacerdote primaz da CRBNDM. ORCID: 0000–0002-8512-7507. P.E-ISBN: 911637 - Email: ananguê@gmail.com. BLOG: tataanangue.blogspot.com.

 

Referências bibliográficas

CARISE, Iracy. Máscaras africanas. São Paulo: Madras, 1998.

CASTRO, Ieda, Antonita, Pessoa de. O Português Do Brasil, uma intromissão nessa história. In: Charlotte Galves, Helder Garmes, Fernando Rosa Ribeiro (Org.). África-Brasil: caminhos da língua portuguesa. Campinas: Editora Unicamp Ltda., 2009. p.175-184.

THOMPSON, Robert Farris. Flash Of The Spirit New Harven. 1992.

 

THORNTON, J. K. (1992). Legitimacy and Political Power: Queen Njinga, 1624-1663. The Journal of African History. Cambridge, v. 32, n. 1, p. 25-40.

 

 

 

domingo, 30 de outubro de 2016

A GRANDE LACUNA



A GRANDE LACUNA NA HISTÓRIA DO NEGRO BANTU NO BRASIL
JEUSAMIR ALVES DA SILVA
TATA KIMBANDA KIÁ DIAMBA ANANGÊ
Arrancada de seus Reinos na Mãe África e introduzida no Brasil pelo processo colonial escravista, a população negra está dividida em três vertentes. A primeira a trazida no século XVI, os BANTU. Palavra, segundo a tradução dos Capuchinhos de Ambaka, BA prefixo da língua Kimbundu que significa muitos e UNTU corresponde a corpo, homem, indivíduo, pessoas ou tribo, (MAIA, 1961). Provenientes da Guiné que era todo o território próximo ao Oceano Atlântico, um pouco acima do Cabo Roxo, precisamente, uns 12° latitude Norte até o Cabo Negro, nos limites de Angola, aproximadamente a 16° Latitude Sul, de modo que, os 99% dos escravos destinados a toda América podem ser oriundos de qualquer parte desses 28° de Latitude, (Guiné e Angola), segundo escritos antigos, e não da Guiné atual e nem do Golfo da Guiné. O negro bantu veio para trabalhar nas lavouras de Cana de Açúcar, Milho, Mandioca, Café e Algodão. Segundo Ribas (1958, p.21), “o Kimbundo em particular, influenciou fortemente o português falado no Brasil. A língua bantu marcou na realidade um lugar notório no processo de transculturação Afro-Americana.
          A segunda vertente foi a dos Gêges ou Fons , oriundos do território onde o Benim se situa que era ocupado no período pré-colonial por pequenas monarquias tribais, das quais a mais poderosa foi a do reinado Fon de Daomé. Os portugueses estabeleceram entrepostos no litoral, conhecido então como Costa dos Escravos. Os negros capturados eram vendidos no Brasil no Caribe.  Introduzidos no Brasil em meados do século XVII e XIX, inicialmente nos mercados de escravos na Bahia e de lá se espalharam pelo recôncavo baiano e, posteriormente por todo o território brasileiro. A terceira vertente, os Nagôs veio do Togo, Nigéria e Benin, já no século XVIII, época da descoberta do ouro, em Minas Gerais.  Por serem considerados bons mineradores em suas terras, se achavam superiores, cultural e religiosamente, ao povo bantu já aqui estabelecido a praticamente trezentos anos. (PRANDI, 1991).
Na época do primeiro estudo sobre o negro eram os Nagôs ou Sudaneses, estavam em evidência.  Nina Rodrigues não considerou as importantíssimas fontes de origem bantu. Ignorou as manifestações folclóricas no Brasil como: Capoeira Samba, Congadas, Maracatu, Jongo e etc. Seus discípulos Artur Ramos (1903-1949) e Edson Carneiro (1912-1972),  seguiram a mesma linha e não disfarçaram o seu preconceito com relação a Tradição Bantu, referindo-se com desdém a propalada pobreza mítica dos Candomblés de Angola. Em seu livro “O Negro Brasileiro”, Ramos comenta:


[...] tal foi a influência dos sudaneses na Bahia, pelo número e pela  maior riqueza dos seus elementos míticos, originando uma espécie de religião geral gêge-nagô, que o próprio Nina Rodrigues teve as suas vistas desviadas de qualquer outro tema negro religioso que não fosse gêge-nagô, muito embora tivessem entrado também negros bantus, principalmente, angolenses na Bahia. (RAMOS, 1934, p. 75).

Passou-lhe despercebida que a vertente negra que formou junto com o europeu e o índio o nosso português brasileiro, que foi exatamente a do negro Bantu-Angola, que falava o Kimbundu. Segundo Ribas (1958, p.21), “o Kimbundu em particular, influenciou fortemente o português  falado no Brasil. A língua bantu marcou na realidade um lugar notório no processo de transculturação Afro-Americana.

Somos uma sociedade híbrida, temos a nossa língua formada pelo Tupi Guarani do nosso índio (país Brasil) + o Português europeu (país Portugal). E por que na vez do negro não citamos o país africano de onde ele veio e qual a língua?  Por que dizemos simplesmente negro africano, quando a África é um Continente? Esta lacuna histórica secular é que alimenta o preconceito e a discriminação dentro da própria raça.
A meu ver, para que possa-se falar de compreensão para a construção de relações de respeito e tolerância na sociedade brasileira, faz-se necessário preencher essa lacuna usando a informação através da Educação. Para tal, aproveitar-se-á o gancho da Lei. 10.639/2003 que obriga o ensino da Cultura Afro Brasileira, no ensino brasileiro, para incluir nas grades curriculares conteúdos sobre a Cultura e Religiosidade Bantu Angola, bem como a formação, a capacitação e a atualização de professores na rede pública e particular de ensino.
Fonte:
Blog: www.tataanangue.blogspot.com Notícias, Centro de Estudos, Trabalhos Acadêmicos, Cânticos do Candomblé Bantu Angola, fotos antigas, Canal You Tube. Notícias recentes: Roda de Conversa (UFRRJ, FEUDUC, UERJ, CNCACTBB) na CRBNDM, em 30 e 31 /01/2016. Tema: “O porquê do uso da língua portuguesa, nos cânticos e rezas, nos candomblés Bantu Angola, além das línguas nacionais Kimbundu e Kikongo. O porquê do uso de máscaras (mukangi, plural de mukange), nos akisi, (plural de mukisi) divindades.
REFERÊNCIAS.
ADOLFO, Paulo Sérgio Nkissi Tata dia Nguzu, estudos sobre o candomblé Congo-Angola Editora da Universidade Estadual de Londrina, Londrina. 2010.
ANGELO, A. O Povo Bantu, Mitos e deuses africanos de Angola... Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Sub reitoria de Extensão e Cultura (SR-3), departamento de Extensão, PROEPER,CCS, 2013.
BEZERRA, Nielson, Rosa. A Cor da Baixada, HPPH-CLIO, Duque de Caxias, 2011.

MAIA, Da Silva, Antonio, Padre, Dicionário Complementar Português – Kimbundu – Kikongo, Luanda – Angola - 1961.

PRANDI, Reginaldo. Os Candomblés de São Paulo.São Paulo, EDUSP, 1999.

RAMOS, Arthur. O Negro Brasileiro, 1ª.  Ed. RJ, Biblioteca de Divulgação, setembro de 1934.

RIBAS, Oscar, Ilundo, (1958, p.21).

RODRIGUES, Nina. Os Africanos no Brasil, 4ª. Ed. São Paulo: Cia Editora Nacional - 1976.

SILVA, Jeusamir Alves da. Angola nação mãe. Ed. Duque de Caxias, Gráfica e editora Maná Betel, 2011.