NÃO É ZUMBI!
Tata Ananguê[1]
Figura 1: Cabeça de Nobre
nigeriano
Fonte: Acervo British
Museum de Londres.
Figura
2: Zumbi dos Palmares
Fonte: Zumbi (1927), pintura de Antonio Parreiras (1860 – 1937) / Acervo do Museu Antonio Parreiras, Niterói.
20 de novembro, mais um dia de comemoração a uma imagem equivocada, no que tange a verdadeira identidade do herói negro Zumbi dos Palmares. Não se sabe se foi, ou é mais um: Deixa rolar! Time Que Está Ganhando Não Se Mexe! Negro é tudo a mesma coisa! Vai que cola! etc, etc e tal. Está-se falando da inauguração do monumento a Zumbi dos Palmares, em 20 de novembro de1980, alguns dizem 1986, na Avenida Presidente Vargas, precisamente, na área intitulada Praça XI, na Cidade do Rio de Janeiro. O fato é que não durou muito tempo do citado evento, para um jornal carioca, anunciar o roubo da cabeça de Zumbi dos Palmares, cuja imagem era da referida cabeça envolta por um torço, no estilo banto, material esculpido em bronze como aparece na figura 2. Três meses depois, anunciaram a reposição da cabeça de Zumbi. Porém, a reposição foi uma réplica da cabeça de um nobre iorubá, como aparece na figura 1, e que lá permanece até a data de hoje, mas que nada tem a ver com Zumbi dos Palmares que descende da linhagem Bantu. É importante clarificar que Iorubás e Bantos situam-se na região subsaariana, ou África Negra, ou seja abaixo do Vastíssimo deserto de Saara. A diferença é exatamente por que são separados pela linha do Equador. Acima dessa linha habita o povo que fala a língua Yoruba (os Nagô), e os Jeje que falam a língua Fon ou Ewe. Essa região é conhecida como África Ocidental. Enquanto os Bantu habitam a África Centro Ocidental que fica abaixo da linha do Equador. Onde conclui-se que por isso, tratam-se de povos diferentes, regiões diferentes, países diferentes, cultura e religiosidades diferentes. (Castro, 2009).
Entretanto, no
velho processo do “achismo”, tudo termina, equivocadamente, em Iorubá, ou seja:
Olorun, Orixá, Axé, Ogun, Oxossi, Xangô, Iemanjá, Inhasã, entre outros, que em
algum momento tiveram uma passagem terrena como seres humanos, e por isso
gostam de apresentarem-se dessa forma. Como exemplo temos: Xangô rei de Oyó,
Ogun rei de Onyrê, Odudua rei de Ífé, etc. Então, é quando por falta de
conhecimento, os Bantu com sua maior divindade Nzambi Mpungu (O Deus todo
Poderoso), o Nguzu, os mukisi (mukixi), nikici que são divindades medicinais e
secundárias como Nkoci, Mutakalambo, Nzaji, Kaiala, Matamba e etc, são
impiedosamente lançados na área do deboche, estereótipos e rotulações. Todavia,
há de se convir que, isso acontece também, dentro de algumas casas de Angola
que se acham superiores àquelas que não pertencem as suas raízes, e que nesse
caso apresentam suas próprias peculiaridades. As divindades secundárias bantu incorporam
em forma de espírito, já que não tiveram vida terrena e representam os
elementos da natureza, fogo, água, terra, ar e suas ramificações, onde em algumas
casas fazem uso do mukange (máscara), como símbolo do mistério que sempre está
por trás da máscara (Carise, 1998, Thompson, 1992 e Thornton 1992). Esse
atropelamento infringido diuturnamente à cultura bantu caracteriza-se como mais
uma consequência trágica nesse processo premeditado de invisibilidade.
Mas, retornando à história da cabeça
substituta, na época o jornal O Globo já deixava claro que aquela cabeça
não era a de Zumbi. A escultura até hoje lá exposta é réplica de uma cabeça
nigeriana esculpida entre os séculos XI e XII. Descoberta em 1938, ela hoje
está no British Museum de Londres”. Criar slogans,
como “respeite o meu sagrado! Igualdade racial! Vamos nos unir! Combate ao
preconceito e discriminação! Combate a intolerância religiosa! Tapioca mordeu
beiju! Pa pa pa e bola e coisa e tal!” só irão funcionar quando as
religiões de matriz africana respeitarem cada uma o quadrado da outra. E dentro
desses quadrados, respeitar a raiz ou família do “outro”. Em outras palavras,
analisar o “outro” com relatividade.
[1] Tata Ananguê
(Jeusamir Alves da Silva) – Mestre em Educação, Cultura e Comunicação em
Periferias Urbanas/UERJ. Professor de: História/UNOPAR, Artes e Educação
Artística/IUC. Cientista, Historiador, Escritor, Pesquisador. Pós Graduado em
História e Cultura Afro-brasileira (com Aperfeiçoamento e Extensão), Ensino de
História, Ciências da Religião, Ensino da Língua Espanhola, Artes Técnicas e
procedimentos, Gestão Escolar: Supervisão, Orientação e Administração/UCAM,
Extensão Universitária: O Povo Bantu na África e no Brasil/UERJ. Presidente da
CNCACTBB. Sacerdote primaz da CRBNDM. ORCID: 0000–0002-8512-7507. P.E-ISBN:
911637 - Email: ananguê@gmail.com. BLOG:
tataanangue.blogspot.com.
Referências
bibliográficas
CARISE, Iracy. Máscaras
africanas. São Paulo: Madras, 1998.
CASTRO, Ieda, Antonita, Pessoa de. O Português Do Brasil, uma intromissão nessa
história. In: Charlotte Galves, Helder Garmes, Fernando Rosa Ribeiro (Org.).
África-Brasil: caminhos da língua portuguesa. Campinas:
Editora Unicamp Ltda., 2009. p.175-184.
THOMPSON, Robert Farris. Flash Of The Spirit New Harven.
1992.
THORNTON,
J. K. (1992). Legitimacy
and Political Power: Queen Njinga, 1624-1663. The Journal of African
History. Cambridge,
v. 32, n. 1, p. 25-40.