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quinta-feira, 18 de julho de 2013

CUMEEIRA E CHÃO PRA OS POVOS ANGOLA/CONGO. (NDUÍLO ANGA IUNGO KUALA E BANTU NGOLA KONGO).



CUMEEIRA E CHÃO PRA OS POVOS ANGOLA/CONGO.
(NDUÍLO ANGA IUNGO KUALA E BANTU NGOLA KONGO).
Grupos étnicos  Bantu que consideram o mundo dividido em duas partes: ANGOLA, KONGO, MOÇAMBIQUE, ZIMBAWE, TANZÂNIA, MADAGASCAR.
a)      NDUILO – (Céu – mundo imaterial onde habitam as divindades). (Cumeeira)
b)      IUNGO – (Terra – mundo físico onde habitam os seres humanos, animais e demais elementos). (Chão).
          Para a grande fração da cultura Bantu angolana o IUNGO se subdivide em duas partes distintas e importantes:
Primeira – chamada de MBOXI (Umboxi), que se refere a parte superior do solo onde tocam os pés, onde habitam os seres humanos e aos elementos dos demais reinos.
Segunda – chamada de IXI, OXI, OXIUNGO, parte inferior, subterrânea, o subsolo, onde habitam as forças dos ancestrais e as divindades de transformação chamadas:
NGANZIMBE e NDIAZIMBE tendo relação direta com a divindade KALUNGANZIMBE.
 OBS: KALUNGANZIMBE  se alimenta dos corpos em estado de putrefação. NGANZIMBE  se alimenta com o líquido putrefado  dos corpos e NDIAZIMBE  limpa os ossos e os devolve a superfície, juntamente com o cabelo, elementos que a terra não aceita  e formarão o DNA. KALUNGANZIMBE (divindade relacionada com a transformação dos corpos pela decomposição), não devendo ser confundida com a divindade chamada KALUNGANGOMBE, ligada ao culto dos mortos, que recebe e guarda os assentamentos de pessoas dignitárias de um clã, em especial de sacerdotes e sacerdotisas que durante suas vidas foram dirigentes responsáveis por um templo/terreiro/NZo/Casa/Kanzuá/Kubata; de modo que no quintal dos terreiros, na área externa é construído um compartimento apropriado para tal fato.
No IXI, OXI ou OXIUNGO (subsolo) localizado no centro do JAMBERESSU (salão, ou barracão propriamente dito) da casa/ terreiro/templo/roça de candomblé, deve ser plantado o que chamamos popularmente de “chão da casa”, formando o NLAMBURU, dirigido e governado por KALUMGANZIMBE  referendado como responsável pela transformação dos corpos que são enterrados juntos com elementos minerais preciosos ou não, vegetais e alimentos terrenos além de registros do dia para testemunhar a existência do Kanzuá ( casa), quando de  um provável fenômeno sísmico na posteridade.
ANGOMI DUÍLO – Camadas superiores energéticas que abrigam dentro da nossa cultura as divindades chamadas “PANGU BAKURU”, da construção do universo. Logo abaixo, 4 camadas inferiores, onde habitam as forças elementares e ancestrais, sendo estas quatro camadas chamadas de NDIMBÁ que se comunicam com os seres vivos e uma intermediária cujo nome é NDIALAMBA, responsável pela encarnação do ser humano, na terra e do seu próprio UENDELU UA MUTU, destino a ser cumprido e que pode ser comparado ao termo isotérico chamado de  Carma, ou até mesmo entendido como caminho espiritual a ser percorrido durante sua estadia de vida.

DIVINDADES CONSTRUTORAS.
NZANBI AMPUNGU ou AMPONGO, NDALA KARITANGA, NZAMBI SAKATANA, NKURU –a  LUNGA, TATA KULÉ, SUKÚ, NYAMAKARE, NZAMBI MOXI, MURUNGU, MPEMBE, DEDZÁ, KIK WEMBU, XIBISI.
DIVINDADES MANTENEDORAS
ALUVÁ, JAKATAMBA, TATA KALUNGA, GANGAIOBANDA, NLEBARANGANGA, NLEMBA KITANGO, NGANGA MALEMBA.
DIVINDADES TRANSFORMADORAS ( Ligação direta com os seres humanos).
NSUMBO, NBURUNGUNZU, TATARUNGUNZU, NZAMBARINI, ZUMBARANDÁ, KILAMBA KIAXI, TATA MBIOKÁ, NZAMBI KAMENEMENE, NLEMBA KAJÁ PRIKU.
DIVINDADES DEGRADADORAS
KALUNGANZIMBI, NDIAZIMBI, NGANZIMBE, KALUGANGOMBE, KUINGANGA (aquela que recebe os corpos e os purifica), TATA KISSANGA RIA KALUNJE NGOMBE, NTOTO.
 ATENÇÃO!  Cuidados a serem tomados.
          Segundo a crença religiosa do povo Bantu, principalmente dos Lundas Kioko, só Kimbanda (autoridade espiritual e material da tribo) deverá preparar o NLAMBURU (chão das casas de candomblé Bantu), já que as tribos de origem Bantu são patriarcais (comandadas pelos Tatas Kimbandas) enquanto as de origem Gêje/Nagô são matriarcais.  Aquele ou aquela que violar ou contribuir direta ou indiretamente para a exumação antecipada de um Nlamburu, interrompendo assim o processo de ação das Divindades Degradadoras (KALUNGANZIMBI, NGANZIMBI E NDIAZIMBI) de devolver à superfície o que a terra não aceita, ossos e cabelos, pelos ou penas,( IFUBA, NDEMBA, UTONGO ni TUKU), no mínimo de nove anos, estará exposto as sanções dessas Divindades , cujo UFULAME (destino)será deteriorar-se em vida e quando cessar a MPILA KIAVALELA, (essência da vida) e a alma ( MUENHU ou MWONU), se evolar , terão seus corpos (Mi-KUTU) rejeitados pela terra, ficando, então, expostos na superfície. Fato esse que atingirá até a nona geração dos infratores, pessoas indesejáveis nas casas de santo, cujo UFULAME é sempre o de semear a discórdia e nunca poder se fixar em lugar algum, vulgarmente conhecidos na roda do candomblé como “ quebradores de podre”. Então, ainda como consequência de tal atitude, o espírito (KILULU) dessas pessoas que por qualquer motivo ousaram ou permitiram profanar o reino dessas três Divindades subterrâneas, ao se desprender do corpo morto ficarão vagando eternamente sobre o solo (MBOXI), sem encontrar o caminho de volta para a SANZALA KASSEMBE NDIÁ NZAMBI (Aldeia Encantada de Deus), podendo, um dia, serem chamados para prestar contas e sumariamente condenados a voltarem ao IUNGO (Terra), encarnados ca um,  na forma de um porco que estará sempre fuçando a terra, em busca do que nunca irá encontrar, ou seja,  o alimento,  a felicidade plena, a união,   o descanso eterno, a paz.
Moral da História:
“QUEM PROCURA O QUE NÃO GUARDA, QUANDO ACHA NÃO CONHECE!”
Ou “QUEM EM MUITAS PEDRAS BOLE, UMA LHE CAI NA CABEÇA!”.
REFERÊNCIAS:
 RAMOS, Arthur. “O Negro Brasileiro”, 1ª.  Ed. RJ, Biblioteca de Divulgação, setembro de 1934.
RODRIGUES, Nina. “Os Africanos no Brasil”, 4ª. Ed. São Paulo: Cia Editora Nacional - 1976.
SCISÍNEO, Alaôr, Eduardo. “Dicionário da Escravidão”,  1ª.ªEd. RJ, Léo Christiano Editorial LTDA - 1997.
RIBAS,Oscar, Ilundo - 1958.
QUINTÃO, Luís, José, Gramática do Kimbundu, Escola Superior Colonial - 1934.
TAVARES, Lourenço, José, Gramática da Língua do Congo (Kikongo), missionário - 1934.
MAIA, Da Silva, Antonio, Padre, Dicionário Complementar Português – Kimbundu – Kikongo, Luanda – Angola - 1961.
NASCIMENTO, Pereira do, J, Dicionário Português – Kimbundu, Médico da Armada Real, explorador e naturalista - 1903.
SILVA,Alberto da Costa e. A manilha e o libambo. A Áfricae a escravidão de 1500 a 1700. Rio de Janeiro, Nova Fronteira/ 2002. P. 235.
COTRIM,Gilberto, Saber e fazer História.ed.Saraiva. são Paulo:2008.
ANGELO,  Alfredo.Professor, pesquisador UERJ. 1997.  E.mail: katende@oi.com.br
CARNEIRO, Edson “Candomblés da Bahia”, Ed. De Ouro – 1948.
JOHN M. Janzen, Ngoma: Discourses of Healing in Central and Southern Africa, University of California Press, Berkeley and Los Angeles, 1992
JAMES L. Newman, The Peopling of Africa: A Geographic Interpretation, Yale University Press, New Haven, 1995
SILVA, Jeusamir Alves da Silva ( Tata Ananguê), “ Angola Nação Mãe – O Resgate do Candomblé Tradicional Bantu – Angola”, Ministério da Cultura – Fundação Biblioteca Nacional – pp: 06 – 226;